O último tema do Raio X em homenagem aos 463 anos de Salvador é a mobilidade urbana. Quem vai falar sobre o assunto é a arquiteta e analista de tráfego e trânsito, Cristina Aragón. A especialista, que também escreve para o Blog de Trânsito do iBahia, mostra a atual situação de Salvador, os problemas e aponta soluções para a mobilidade da capital. Confira!
Bota o pé no chão Salvador! A Imobilidade urbana Em janeiro de 2011, Salvador contava com 730.682 veículos enquanto que em 1997, ano da aprovação do CTB - Código de Trânsito Brasileiro, existiam 356.000 veículos. Não faltam opiniões no sentido de que “as soluções” dos congestionamentos, hoje enfrentados em todas as grandes cidades, está em construir mais e mais vias, acompanhando o crescimento da frota.Como dizem que de médico, louco e engenheiro de trânsito todo mundo tem um pouco, vou aqui também, dar os meus pitacos. Buscando nos meus alfarrábios, achei alguns dados comparativos sobre o trânsito da Paralela.
Av Paralela ano 2002 Qt. de veículos nos dois sentidos em média Média diária - 72.000 Média Horária - 7.732 | Av Paralela ano 2011 Qt. de veículos nos dois sentidos em média Média diária - 152.408 Média Horária - 14.794 |
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Concluindo: enquanto a frota de Salvador dobrou em 14 anos, o trânsito da Paralela mais que duplicou em apenas nove anos. O crescimento dos fluxos de trânsito não são proporcionais ao crescimento da frota. Tem a ver com os eixos de expansão da cidade. Assim como uns crescem, como é o caso da Av. Paralela, outros podem decrescer, como por exemplo, o trânsito da Península Itapagipana. Por aí, é possível ver que a coisa não é tão simples assim. A pergunta: será que seria possível, ou justo ou viável ou ainda ambientalmente correto, a cada nove anos duplicar a Avenida Paralela? Tenho a impressão que esta conta não fecha.
Será que ficaríamos satisfeitos com algo assim? A cada 8 anos duplicaríamos a Av Paralela e seríamos felizes para sempre? Aterrando Pituaçu, o que sobrou da mata atlântica e quem sabe asfaltando o que existe entre a avenida e a orla. Tudo asfalto ou então um elevadão! Uma beleza. Ops! Beleza, como assim? Vamos ver o que está acontecendo no mundo.
| ...., o prefeito Gilberto Kassab anunciou em Maio um plano que prevê a demolição do Elevado Costa e Silva, popularmente conhecido como “minhocão”, (Fonte: ecohabitararquitetura.com.br/blog/que-destino-para-o-minhocao/) “A cidade de Boston (EUA) também tinha um minhocão parecido como nosso. Lá, o elevado que também ficava na região central, e derrubá-lo foi a única solução para devolver a paisagem natural da cidade. O projeto de Boston teve custo final de R$ 14 bilhões - parece caro, mas pode valer a pena” (Fonte: amosampa.blogspot.com.br/) | |
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É claro que temos alguns nós no trânsito, como por exemplo o estreitamento do Largo da Mariquita, as obras incompletas do sistema viário da Tancredo neves, os viadutos de retorno da Paralela, interseção da ACM - Juracy Magalhães e também a Paulo VI dentre outras, que precisam ser equacionados, sendo indicado, inclusive, a construção de viadutos e/ou desapropriações.
Problemas e soluções Dando um "Google" em Salvador é fácil observar que a coisa está ficando difícil. É necessário que algumas intervenções viárias sejam feitas, sem dúvida. Porém não podemos perder o foco que é o investimento prioritário no transporte de massa. Tivéssemos concentrado nossos esforços, tempo e dinheiro na melhoria dos transportes públicos, com ônibus mais confortáveis, acessíveis e com tarifa integrada; na implantação de sistema cicloviário; na recuperação e/ou construção de calçadas acessíveis; na implantação de sistemas de transporte vertical entre os vales e as cumeadas, estaríamos por certo, em outro patamar de mobilidade. Com a possibilidade dos recursos da COPA se enxerga no fim deste túnel a reestruturação da mobilidade urbana. A tão esperada conclusão da 'linha um', em Pirajá e construção da 'linha dois' do metrô até Lauro de Freitas vão dar uma nova estruturação urbana a Salvador. Se tudo der certo, em breve, poderemos optar por vias engarrafadas ou fazer ao contrário do que mandam os reis do Axé: botar o pé no chão e seguir para o transporte que todos queremos, ou melhor, merecemos.
| | Por Cristina Aragón, Arquiteta graduada pela UFBa, analista de transporte e tráfego. Ocupou cargos de gerente de educação para o trânsito, Chefe de Gabinete e Superintendente da antiga SET - Superintendência de Engenharia de Trânsito, em Salvador. |
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