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SALVADOR

Para tapar cratera, empresa deve cavar mais. Custo de 4 milhões

O problema está a 9 metros de profundidade, sendo que os técnicos sequer chegaram na metade do caminho

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06/07/2013 às 16:57 • Atualizada em 31/08/2022 às 9:13 - há XX semanas
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A expressão costuma ter duas serventias. Uma ameaçadora. “Aqui, o buraco é mais embaixo”. A outra em tom de justificativa. “Tá pensando que é fácil? O buraco é muito mais embaixo”. Mas, o buraco aberto no Km-618 da BR-324 inaugura a terceira e literal utilidade para a frase. Ali, o buraco, que ontem completou um mês de existência, é realmente mais embaixo. O problema está a 9 metros de profundidade, sendo que os técnicos sequer chegaram na metade do caminho. Aliás, além de complexa, a obra é cara: vai custar à concessionária Via Bahia, responsável pela rodovia, algo em torno de R$ 4 milhões.
Estrutura de aço instalada ontem vai sustentar duto de água e permitirá escavação para localizar problema que originou cratera na BR
O que torna o trabalho delicado é um duto da Embasa que passa pelo local, paralelo à pista, e abastece 27 bairros de Salvador. É nele que a Via Bahia se prende para explicar a demora na reconstrução da pista. A cratera, que tem 30 metros de comprimento e 15 metros de largura, causou a interdição das três vias no sentido Feira de Santana. Sem a sustentação do solo, o duto, por onde correm 2,6 mil litros de água por segundo (o suficiente para abastecer duas Feiras), impediu que os técnicos chegassem ao ponto exato do problema. Somente ontem, depois que a Embasa concluiu a instalação de uma treliça de aço (espécie de passarela) para escorar o duto, foi possível iniciar o processo de escavação. Temporariamente, dois guindastes sustentaram o tubo de concreto. A instalação da treliça, que pesa cerca de sete toneladas, levou mais de 12 horas e provocou a suspensão do abastecimento de água pela segunda vez, sendo retomado às 19h gradativamente. Profundo Agora, para atingir o local do dano que causou a abertura da cratera, vai ser necessário descer cinco metros abaixo da profundidade atual da abertura, que já tem quatro metros. Pelo menos os engenheiros da Via Bahia já têm quase certeza do que provocou a cratera. Na altura da via marginal à rodovia, próximo à empresa Walmart, o teto de uma galeria que escoa águas pluviais e passa por debaixo das pistas simplesmente cedeu. “Só não sabemos ainda o que fez essa galeria se abrir. Tudo indica que saberemos quando conseguirmos chegar lá”, disse o diretor de engenharia da Via Bahia, Luiz Nogueira de Almeida. A complexidade da obra até provocou um certo constrangimento nos dois envolvidos no conserto do buraco. Via Bahia e Embasa não se entenderam em um aspecto. Para a Embasa, a concessionária não deveria ter esperado a treliça para iniciar a escavação do local.
“Eu tinha dois guindastes escorando o duto e, enquanto isso, eles podiam estar mexendo”, afirmou o superintendente de abastecimento da Embasa, o engenheiro José Moreira Filho. Para a Via Bahia, a questão é a segurança. “A treliça nos dá muito mais segurança. Não queremos colocar os funcionários em risco”, argumentou Luiz Nogueira, que também é engenheiro. Numa coisa eles concordam. Problemas desse tipo são de difícil prevenção. Até porque, centenas de galerias de água cortam a BR, formando uma rede de escoamento. “São tubulações antigas, de manutenção complicada”, disse o diretor da Via Bahia. “Esse é o legítimo buraco mais embaixo”, confirmou o engenheiro da Embasa. Medidas A Via Bahia insiste que, desde o primeiro desabamento da pista, no dia 5 de junho, trabalhou como pôde. “Choveu sem parar nos últimos 30 dias”, afirma Luiz Nogueira. A primeira medida foi instalar 45 estacas que “costuraram” a rodovia e impediram mais desmoronamentos. Depois, as chuvas ampliaram a cratera. Para não fechar totalmente o acesso a Feira, uma camada de asfalto foi colocada no canteiro central e virou pista. Nos últimos dez dias de junho, a Via Bahia instalou bombas para drenagem da água da chuva próximo à bacia. Além disso, fez um tamponamento com comportas de aço para o resto da água não escoar para a galeria. Então foi só esperar a Embasa. Instalada a treliça, ontem, agora o problema é 100% da Via Bahia. O próximo passo é o escoramento das paredes da área onde os funcionários vão trabalhar. “Vamos criar um confinamento seguro para escavar”, explica Nogueira. Todos os dias, uma média de 35 mil veículos passa pela BR-324. A previsão é de que a pista seja liberada no final desse mês, antes mesmo da conclusão da obra. “Assim que fizermos o escoramento para consertar a galeria, a obra da estrada poderá ser feita simultaneamente”, explicou o engenheiro da Via Bahia. Com tudo pronto, vai ser preciso aterrar todo o buraco. Ao final, para ser tapada, a cratera vai engolir 10 mil metros cúbicos de material - mil caçambas de pedra e terra. Transtornos para muitos e lucro para alguns poucos Desde que o buraco foi aberto na BR-324, quem precisa passar por ali tem se esforçado em dobro para fugir dos transtornos. Quando não está completamente engarrafada, a pista provoca, no mínimo, retenções irritantes. Na casa da designer Luciane Kalile, 33 anos, que constantemente precisa ir a Feira de Santana, a 108 quilômetros de Salvador, virou regra sair mais cedo. “Tudo para fugir do engarrafamento. Minha mãe, quando vem de Feira, se programa para vir com um dia de antecedência. Antes, se ela tivesse que ir ao médico e saísse de lá três horas antes, poderia chegar sem problemas”. Enquanto isso, a assistente social Sandra Aguiar, 45, tem preferido viajar depois das 20h, desde que passou quase três horas para fazer o percurso Salvador-Feira. Normalmente, leva uma hora e meia. “Só para chegar perto do buraco, perdemos uns 40 minutos. Foi antes do São João, mas serviu de alerta”, conta Sandra, que faz o bate-volta pelo menos duas vezes por semana. “Mesmo assim, geralmente tem um trânsito intenso ali”. Não falta quem reclame, mas existe também quem se aproveita. Durante os congestionamentos, ambulantes vendem água mineral, refrigerante, picolé e tudo o mais. “A vida é assim. Tudo que é ruim tem o seu lado bom, né?”, filosofou Rodrigo Oliveira, 30, que vendia pano de chão na pista. Colaborou Thais Borges Duto da Bahia Gás e cabos da Embratel são afetados Não só a Embasa foi afetada pela cratera. Outras empresas que têm dutos no local do buraco tiveram que fazer alterações emergenciais para dar continuidade aos serviços. A Bahia Gás, que tem um duto de gás natural, precisou instalar um sistema de ancoragem com cabos de aço para prevenir os riscos de desnivelamento, segundo o coordenador de gerência e manutenção José Sílvio Santos. “A nossa situação é parecida com a da Embasa, mas a adutora deles é maior e a água é mais pesada. O nosso duto é todo soldado, mas existe o risco de a terra ceder”, diz. A pressão do gás no tubo, de acordo com ele, é de 20 quilos. “Se rompesse seria perigoso, já que é inflamável”. No entanto, Santos afirma que o abastecimento nunca foi afetado. Já a Embratel, através da assessoria, informou que tem realizado ações preventivas, como a transferência dos cabos subterrâneos por fiação aérea. “Nossos clientes não sofreram impacto e os serviços funcionam normalmente”. A companhia telefônica Oi, que tem cabos de fibra óptica no local, informou que não foi afetada pelo buraco. Vida de Buraco 5/6 Após noite de chuvas, marginal da BR cedeu, atingiu via principal e interditou duas pistas 9/6 Foram instaladas estacas metálicas – uma espécie de costura da rodovia - para conter mais desmoronamentos 19/6 Chuvas provocam aumento do buraco. As três pistas sentido Feira de Santana são interditadas. Estacas metálicas foram reforçadas. Asfalto foi colocado sobre canteiro central, que virou pista 20/6 Com aumento do buraco, duto da Embasa fica sem sustentação. Dois guindastes serviram de escoramento provisório 22/6 Após determinação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), preço do pedágio da Praça Simões Filho foi reduzido em 50% (de R$ 1,80 para R$ 0,90) 5/7 Embasa instala treliça metálica para sustentar duto de água. Escavação para encontrar problema pode, enfim, ser iniciada

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