Às vésperas do dia oficial do aniversário de 466 anos de Salvador, o prefeito ACM Neto (DEM) quase não para. Enquanto a equipe de reportagem, aguarda na antessala do gabinete do Palácio Thomé de Souza, ele está reunido com empresários, depois políticos, secretários em seguida. Quando começa a atender a reportagem, ainda está assinando papéis, devolvendo relatórios e dialogando pelo smartphone. Este também não parou durante a entrevista em que Neto fala sobre projetos para o futuro da cidade, mudanças na educação, manutenção de investimentos de impacto para a capital e saídas para lucrar em meio à crise.
O que o senhor espera anunciar na festa de 467 anos? O que espero para ano que vem é continuar nesse ritmo de investimento, de obras, de serviços, de realizações na cidade. Que a gente possa superar ainda mais esse conjunto de ações, que já é bastante significativo. Se você olhar para trás, não era possível imaginar que Salvador iria conseguir, a um só tempo, ter mais de um bilhão de reais de investimento, que é o que estamos inaugurando ou iniciando neste período de festejos. Isso é a demonstração clara e inquestionável do trabalho feito. Espero que a cada ano eu possa me superar, que tenhamos mais motivos ainda para comemorar, que a cidade esteja ainda melhor. Qual será a cara da cidade daqui a um ano? Ela está mudando a cada dia, isso salta aos olhos das pessoas. A reorganização do espaço urbano, a recuperação das áreas públicas, das praças, áreas verdes, orla, asfalto, iluminação, limpeza, tudo isso vai mudando a feição da cidade. Onde a gente chega em Salvador há uma obra da prefeitura. Isso motiva as pessoas a também cuidarem melhor dela. Quando a gente projeta o futuro, enxerga a entrega das obras que estão iniciadas ou sendo executadas, e a concretização de uma série de coisas planejadas. Por exemplo? Ano que vem, vamos ter a obra do BRT (projeto de corredores exclusivos para ônibus rápidos) em andamento, se Deus quiser. Espero para o ano que vem a conclusão do conjunto de ações da orla. As quatro UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento Médico) em construção, espero vê-las prontas e funcionando a contento. Temos ainda mais de 80 escolas que estamos reformando, e construindo mais 40 unidades de educação infantil. Espero também vê-las concluídas.Nos seus planos, como será Salvador com 500 anos? Quando lancei o plano Salvador 500, apresentei à cidade o desafio para que não eu, mas para que cada cidadão pensasse a cidade que quer ter daqui a 33 anos. Será a cidade que minhas filhas e, quem sabe, meus netos verão. Minha confiança é a de que ela seja melhor do que hoje. Menos desigual, mais justa, com menos pobreza, com uma infraestrutura de transporte capaz de atender toda a demanda da população. Uma cidade que tenha crescido de maneira mais organizada, que seja mais verde e que tenha conseguido preservar seu patrimônio natural. Por fim, que tenha se posicionado como o grande celeiro da produção cultural e artística, da criatividade e inovação do Brasil.No que se baseia o Salvador 500? Ele examina todos os aspectos da cidade: urbano, ambiental, econômico, cultural e social. A ideia é que a gente possa ter bem definidos esse plano, não só para transformar instrumentos legais, como PDDU e a Lous, mas para que isso sirva como bússola para governos que virão. Como fez lá atrás Mario Leal Ferreira (engenheiro e criador do plano de urbanismo da cidade, marco na capital baiana).Sobre a reforma na educação, que o senhor trata como prioridade para 2015 e 2016, que mudança será vista nos próximos anos? A curto prazo, será possível ver em funcionamento as novas escolas da prefeitura. Tanto as que foram reformadas quanto as que foram construídas. Um exemplo é a que inauguramos hoje (anteontem), a Eduardo Campos, em Águas Claras. Ela é a primeira a funcionar em tempo integral e não deve nada a nenhuma escola privada do Brasil em termos de estrutura e de equipamentos. Esse modelo se tornou, para nós, algo absolutamente sagrado. Nossos centros de educação integral começarão a ser construídos agora. No ano que vem, vão estar funcionando e atendendo crianças que não têm acesso ao segundo turno, por falta de estrutura nas escolas em que estudam. Elas terão o centro para isso. E em relação à qualidade de ensino no município? Isso é outra transformação que o secretário Guilherme Bellintani está inteiramente debruçado. Vamos interferir na qualidade do ensino, mudar a lógica pedagógica. O sistema estruturado que estamos desenhando, junto com ações na correção de fluxo, vai permitir a recuperação das crianças que passaram pela alfabetização, mas não aprenderam realmente a ler e a escrever. Isso, de fato, será mais significativo. E é a mais valiosa, é a forma como a criança vai crescer e se colocar depois na sociedade.A crise financeira não atrapalha esses projetos? Pode atrapalhar, não tenha dúvida. Na verdade, quando olho para trás, vejo que a decisão mais acertada que tomei foi ter tido coragem de fazer um grande ajuste fiscal na prefeitura no início. Se eu não tivesse feito esse ajuste em 2013, não sei como Salvador estaria hoje diante dessa crise. Vamos conseguir atravessar o rubicão da crise de cabeça erguida, sem comprometer a gestão, por causa do ajuste fiscal que fiz. Mas, ainda assim, causa preocupação... Sim, claro. Tivemos uma arrecadação em janeiro que, apesar de ter registrado crescimento, não foi o que queríamos. Em fevereiro, a arrecadação ficou abaixo do estimado. A gente percebe que os tributos diretamente ligados à atividade econômica tiveram performance inferior ao que estava programado. Felizmente, tinha feito um caixa. Conseguir virar 2014 com dinheiro, com reserva, o que vai nos permitir tocar os projeto, manter investimentos e serviços, sem trazer prejuízos. Até maio, ainda é momento de incerteza. Não é possível ter clareza da extensão da crise sobre nossas contas. Se isso impactar de maneira decisiva nas finanças da prefeitura, a gente pode ter que rever o volume atual de investimentos. Mas, por enquanto, está tudo mantido.O BRT, por exemplo? Na parte da prefeitura, tudo certo. Mas, além de nós, há recursos de financiamento e da União. A contrapartida do Município está reservada e bem guardada. Espero que o governo federal cumpra a parte dele. O BRT é prioridade do PAC da Mobilidade.Na área de eventos, há novidades no gatilho? Nossa ideia é que possam acontecer, a cada dois meses, um evento de porte nacional em Salvador. Essa é nossa meta. Queremos ter pelo menos seis eventos por ano, que tenham força de atrair as atenções do Brasil para Salvador, captando turistas e gerando renda. Sabe que, nesse caso, a crise é um bom momento para transformar dificuldade e oportunidade? Como assim? A alta do dólar favorece o turismo interno. Torna Salvador mais atrativa. Há pouco tempo, quando o dólar estava mais baixo, a pessoa que programava férias e morava no Sudeste do Brasil fazia contas e via que viajar para Miami e para Salvador acabava custando quase a mesma coisa. Agora, ficou bem mais caro. Da mesma forma, o turista estrangeiro terá maior interesse em vir. A cidade ficou mais barata para quem é de fora. É uma janela de oportunidade e vamos aproveitá-la. Tanto que, além de ampliar nosso calendário de eventos, vamos manter investimentos na recuperação de equipamentos públicos, como os fortes de São Diogo e de Santa Maria, para servir às exposições permanentes de Carybé e Pierre Verger. Estamos licitando a recuperação completa da Praça Cayru, cujas obras devem começar em breve. E em relação aos novos quiosques da orla? Estamos apenas esperando a autorização da SPU (Superintendência de Patrimônio da União) para implantação. Eles já estão prontos, são lindos. Tive, inclusive, a oportunidade de vê-los em processo de fabricação. E todo esse conjunto de investimentos tem objetivo econômico. Não queremos apenas embelezar a cidade. Em abril acaba a fase de consolidação do programa Ouvindo Nosso Bairro. Já existe algum norte? Sim. Vou fechá-lo entre abril e maio, vai depender de concluir a organização do programa de obras, um cronograma de intervenções simultâneas em 163 bairros da cidade. Não será uma coisa fácil. Vamos lançar um grande programa, que já tem nome e plano concebido, como consequência do Ouvindo Nosso Bairro. Na verdade, serão dois, o segundo é na área habitacional. Há sinergia mesmo com o governador agora ou o encontro com Rui Costa (PT) não passou de jogo de cena entre políticos? Da minha parte, jamais iria perder meu tempo e, sobretudo, jamais iria a um encontro com o governador para a compor cena política. Fui com a melhor intenção, de fazer o estado ser parceiro da prefeitura. No que depender de mim, será a relação mais harmônica possível. Espero que ele proceda dessa forma.O metrô sai ou não sai? Em 12 anos, ele foi uma novela. Nos últimos dois, se tornou realidade. Hoje o metrô opera, mesmo que em fase assistida. As obras do governo do estado estão aí, a população vê os canteiros. O que não está acertado é a operação comercial, mas será. Quem apostar contra perderá feio. Há algum presente prometido na campanha que não será entregue? Pode parecer loucura, mas tenho hábito de sempre rever meus programas de campanha, para me lembrar de cada promessa que fiz. De todos os compromissos que assumi, o mais desafiador é a construção do Hospital Municipal, mas só por causa da crise. Ele vai custar entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões, já incluindo a desapropriação do terreno. A prefeitura se programou para esse investimento. Mas só para ser operado, para funcionar, será esse mesmo valor por ano. Não posso tomar uma decisão sem pensar no impacto a longo prazo nas contas da prefeitura. Não posso pensar apenas no período em que eu for prefeito. Não serei irresponsável de deixar uma bomba armada para quem me suceder. Mas diria a você que avançamos muito. E se for mantida a palavra do ministro da Saúde, Arthur Chioro, de que o governo federal bancaria 60% desses custos, aí garanto que o hospital vai sair.
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