Apesar da área da capital baiana ter recebido navegadores desde antes da fundação da cidade, foi apenas em 13 de maio de 1913 que o Porto de Salvador foi inaugurado. Na época, o porto da capital baiana nasceu como um dos mais importantes da América Latina e sofreu reformas de ampliação e modernização para o transporte de cargas. Hoje, 100 anos depois, novas reformas prometem receber melhor os turistas e tornar Salvador uma cidade estratégica para os cruzeiros marítimos. Nesta segunda-feira (13), já será entregue a nova esplanada do Comércio, que, com a inauguração do novo Terminal Marítimo de Passageiros em agosto, vai modificar a paisagem da Zona Portuária. “É o descortinamento da Baía de Todos os Santos para o Comércio. É o ponto de partida para um projeto maior, de revitalização da área”, aposta o presidente da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), José Rebouças. Novo Terminal Aproximadamente R$ 30 milhões foram destinados à construção do terminal e à nova esplanada do Comércio, que foi, em parte, erguido no aterro feito há 100 anos. Os recursos são do Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal para a Copa do Mundo de 2014 (PAC da Copa). Outros R$ 160 milhões foram investidos na dragagem do porto e ampliação do quebramar. O terminal poderá aportar até dois navios de cruzeiro atracados e terá uma área destinado a gastronomia e lazer, com bares, restaurantes e lojas. A administração do local será realizada no modelo de parceria público-privada (PPP). O presidente da Codeba considera que os turistas eram recebidos de forma precária, o que deve mudar agora. Para ele, a reforma é tão importante quanto a obra que comemora 100 anos amanhã. “A ideia de modernizar o porto é a mesma. Em 1913, a carga passou a chegar em contêineres”. Rebouças ressalta, no entanto, que são projetos com finalidades diferentes. O novo terminal atenderá aos navios de turismo, não a cargueiros. Segundo ele, o Porto de Salvador não está preparado para turistas, apesar do crescimento da demanda. Rota de Cruzeiros Há 15 anos, estima Rebouças, cerca de 3 mil turistas chegavam à cidade por ano. Em 2012, quase 300 mil pessoas que visitaram Salvador chegaram pelo mar. Em 2012, a cidade esteve na programação de 116 cruzeiros marítimos, uma alta de 96,61% desde 2003. Além do aumento no número de embarcações que passaram pela capital baiana, a capacidade de transporte de passageiros dos navios também cresceu. Hoje os navios que vêm a Salvador aportam, em média, 2,5 mil passageiros, segundo a Secretaria do Turismo da Bahia (Setur). A professora do curso de Turismo da Uneb e ex-presidente da Bahiatursa Emilia Salvador explica que o turismo náutico é recente no Brasil e que apenas 15% do potencial do setor é explorado. “Na Bahia, apesar da imensa e belíssima orla, a gente não criou a prática do turismo náutico. Lembro, na época em que fui presidente da Bahiatursa, quando íamos receber os turistas na terça-feira de Carnaval. Era um caos. Levávamos grupos afros e pessoas para dar fitas do Senhor do Bonfim para os turistas não perceberem a condição do porto. Era tosco”, lembra Emilia. Presidente do Sindicato dos Hoteis de Salvador (Sindihoteis), Sílvio Pessoa também recorda a precariedade do porto hoje e aposta no novo terminal para transformar a cidade em um homeport (porto de origem e destino dos cruzeiros marítimos). “Só agora estamos tendo um porto digno e não apenas galpões empoeirados para receber turistas nacionais e internacionais. Em vez dos turistas passarem seis horas na cidade, eles podem vir com antecedência e dormir aqui, indo a restaurantes e hotéis”. Desafios Para que o sonho dos empreendedores do turismo, que representa 20% do PIB de Salvador e 7,5% do PIB da Bahia, se realize, algumas mudanças estruturais têm que ser feitas na cidade. Uma das principais se refere ao transporte aéreo. “Um navio corresponde a mais de 20 aviões. Sendo um homeport, temos que reforçar a estrutura aeroportuária”, reconhece o secretário de Turismo do estado, Domingos Leonelli. “Hoje, os turistas não dormem (nos hotéis da cidade), portanto, não cumprem toda a função que se espera de um turista”. Para Leonelli, a possibilidade de tornar Salvador uma homeport é a melhor contribuição do terminal. Outro empecilho é o acesso ao porto, que deve ser facilitado com a construção da Via Expressa Baía de Todos os Santos, também com recursos do PAC. A obra, de R$ 500 milhões, também foi realizada de olho na Copa do Mundo de 2014. Para a coordenadora executiva de projetos da Secretaria Estadual para Assuntos da Copa do Mundo (Secopa), Lilian Pitanga, a melhoria no sistema viário é essencial para que a cidade esteja preparada para o evento. “Com a melhoria do acesso ao porto, poderemos usar o navio como leito de hospedagem na Copa. Pelo menos uma embarcação com cerca de 3 mil leitos já está garantida”, informa. Terminal de contêineres perdeu importância no país Antes dos guindastes chegarem a Salvador, em 1913, a carga era transportada por pessoas. A reforma que completa 100 anos amanhã tornou o porto da cidade um dos principais do país na movimentação de contêineres. Nos últimos anos, no entanto, a realidade mudou. “Há sete anos, era o 7º porto em movimentação de contêineres do país, mas os navios cresceram e superaram a capacidade que tínhamos para atracá-los aqui. Deixamos de crescer nos últimos anos e nos tornamos o 11º terminal no ano passado”, diz o diretor executivo do Terminal de Contêiner de Salvador (Tecon), Demir Lourenço Júnior. Ele aposta nos investimentos realizados na dragagem e na ampliação do quebramar para o porto de Salvador voltar a ganhar importância. O investimento de R$ 160 milhões aumentou o potencial do terminal de contêineres de 250 mil TEUs (unidade de medida equivalente a um contêiner de 20 pés) para 530 mil, mais que o dobro. A obra começou em 2011 e terminou em dezembro do ano passado, mas Júnior afirma que o efeito já poderá ser notado este ano. “O que nós temos que fazer agora é, em parceria com o governo e com a Codeba, atrair novos investimentos para a Bahia. Além disso, cargas que vão para Sergipe, Tocantins e norte do Espírito Santo podem passar por aqui”, conta. A estatégia faz sentido, uma vez que a carga transportada por contêineres nos portos brasileiros deve dobrar em dez anos, segundo estudo do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), realizado sob encomenda da Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres de Uso Público (Abratec). Cabe ao porto baiano se preparar para concorrer com os terminais de Pernambuco e Ceará. O Nordeste será, segundo o estudo, a região onde o setor mais vai crescer. O diretor geral da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), Paulo Villa, afirma que o desenvolvimento do estado foi afetado pelo atraso do porto, o que pode ser revertido nos próximos anos, caso sejam realizados os devidos investimentos. “Os usuários dos portos reclamam um segundo terminal de contêineres desde 2005. Há oito anos temos uma estrutura aquém da condição da Bahia”, afirma Villa. Obra de ampliação é pouco ambiciosa, diz diretor da Usuport O diretor geral da Usuport, Paulo Villa, considera que, apesar da reforma, o porto permanecerá aquém do potencial de Salvador. “Poderíamos ter cruzeiro marítimo durante o ano inteiro. Hoje só temos navios por seis meses. Fizemos uma estação muito pequenininha. O potencial de Salvador é de 500 escalas por ano”, conta. Para efeito de comparação, o Porto de Santos, um dos principais homeports do país, inaugurado em 1998, recebeu três vezes mais passageiros do que a capital baiana em 2012, cerca de 960 mil pessoas. Assim como o porto baiano, o paulista passa por reforma para a Copa. A previsão é que, depois da obra, seja possível a atracação de até cinco navios de cruzeiros, com uma oferta de 15,4 mil leitos flutuantes (com embarcação com capacidade para 3 mil passageiros). O de Salvador só poderá atracar até dois navios depois da obra. Villa cita ainda o porto de Fortaleza. “A Bahia merecia uma obra maior do que esta. O porto de Fortaleza terá uma estação cinco vezes maior do que a nossa e com investimento de 50 milhões, 20 a mais do que foi feito para o terminal daqui”. O presidente da Codeba, José Rebouças, rebate as críticas. “Não faz sentido. São projetos semelhantes”, afirma o presidente. Matéria original: Correio 24h Reforma marca os 100 anos do Porto de Salvador
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