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SALVADOR

Só restam dois trens dos 12 que haviam na ferrovia do subúrbio

A prefeitura está às voltas para sustentar o sistema, que custa cerca de R$ 1,2 milhão por mês

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08/07/2011 às 9:36 • Atualizada em 29/08/2022 às 15:36 - há XX semanas
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Enquanto se fala em metrô, BRT e outras alternativas modernas de transporte de massa, os 158 anos de história dos trens que ligam a Calçada a São Tomé de Paripe parecem ter sido esquecidos. Os quatro veículos que restam dos 12 que o sistema já chegou a ter, estão velhos e sucateados. Só dois deles estão nos trilhos e os outros servem como reserva e fonte de peças para reposição. Segundo a Secretaria Municipal de Transportes (Setin), outros quatro trens estão em reforma. Depois que herdou o trem do Subúrbio do governo federal, em 2005, como condição para a liberação de mais verba para o inacabado metrô, a prefeitura está às voltas para sustentar o sistema, que custa cerca de R$ 1,2 milhão por mês, mas só rende R$ 400 mil. A saída foi reduzir o horário de operação de 6h às 18h (era até as 22h), o que deixou insatisfeitos funcionários e usuários, já que a redução afeta diretamente os salários, e o horário das 18h é um dos mais disputados pela população. Além disso, desde novembro passado, o percurso que era feito em 25 minutos precisa de 1 hora e 20 minutos para ser completado. Isso graças à interdição para reforma da ponte de São João e à velocidade máxima dos velhos trens, que não ultrapassam os 20 km/h, segundo o sindicato dos ferroviários. A Setin diz que são 45 km/h. O sistema nem de longe lembra o que transportava 40 mil passageiros por dia até a década de 90 (hoje são seis mil). Era neles que o motorista aposentado Ilo Roberto Alves Lemos , 64 anos, ia diariamente, entre 1960 e 1970, visitar a namorada Maria de Lourdes. “Ela morava em Periperi, eu ia contemplando a paisagem, pensando na vida”, relembra seu Ilo. Já a dona de casa Thilda Muhana Dáu, 81, conta que na década de 50 pegou o transporte com duas amigas, só para passear. “Foi na época de moça. Eu queria experimentar e achei uma beleza”, recorda. Hoje Ilo e Thilda se entristecem ao perceberem que todo o charme e poesia da época se perderam em meio à ferrugem e às pichações. O assistente de estação José Alves de Jesus trabalha na estação de Plataforma há 35 anos e também sente falta dos tempos áureos. “De um dia pro outro, acordei funcionário municipal”, disse, se referindo à transferência de gestão, da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) para a Companhia de Transportes de Salvador (CTS). “Agora eles terceirizaram a manutenção e tudo demora mais. Há dois anos chegaram trilhos novos, para serem trocados, mas até hoje a terceirizada não fez o serviço”, denuncia. A empresa Iesa, responsável pela manutenção, foi procurada, mas a área responsável não se pronunciou. Problemas Entre os maquinistas, as reclamações são muitas. O mato alto ao longo dos trilhos dificulta a visibilidade e, como se não bastasse, moradores de invasões locais quebraram vários trechos do muro de isolamento para fazer passagens clandestinas, que atravessam os trilhos. Algumas passagens são grandes e cimentadas, permitindo a passagem de carros, motocicletas, pessoas e até cavalos. “É susto toda hora. Uma vez atropelei e matei um homem que atravessou na frente do trem”, conta o maquinista Evanildo Chaves, que tem 22 anos de profissão. O também maquinista Jorge Boaventura explica que o tempo de frenagem é bem maior do que nos carros. “Não é instantânea. Tem que ser programada, frear bem antes. Às vezes não dá tempo”. Segundo o Sindicato dos Ferroviários, este ano foram registrados três acidentes. Tempo Entre os passageiros, atualmente a maior queixa é o tempo de percurso, que subiu de 25 minutos para 1 hora e 20 desde novembro do ano passado, quando a ponte de São João, que liga as estações do Lobato e de Plataforma, foi interditada para reforma. Com isso, os passageiros precisam sair do trem na estação do Lobato, para pegar um micro-ônibus em direção a Plataforma, onde entram em outro trem que segue até Paripe. A vendedora Suely Oliveira, moradora de Periperi conta que antes da interdição usava o trem todos os dias. “Agora não dá mais porque demora muito, só pego quando tenho tempo sobrando. Não vejo a hora de consertarem essa ponte. É uma diferença danada pro nosso bolso”, torce. A passagem de trem custa R$ 0,50, um quinto do valor da tarifa de ônibus, que é R$ 2,50. Procurada, a Setin informou que a reforma está 70% concluída, e com previsão de ficar pronta em dezembro. A verba de R$ 60 milhões veio do governo federal. Projetos de modernização nunca saíram do papelAssistindo a essa degradação diária dos trens, a prefeitura bem que tenta fazer alguma coisa, mas, por falta de verba ou mesmo inexperiência, os resultados nem sempre são de todo bons. Apesar da insistência do secretário da Casa Civil, João Leão, em incluir a modernização dos trens no projeto de mobilidade anunciado pelo governo do estado no mês passado, o pedido não deve ser atendido a curto prazo. Pela previsão da Secretaria estadual do Planejamento (Seplan), esse sonho ficaria para depois da Copa do Mundo, numa segunda etapa de implantação do projeto, que prevê trilhos para a avenida Paralela. O mesmo João Leão andou falando em aeromóvel e VLT (trens mais modernos) no lugar dos trens tradicionais e tantas outras ideias que até agora não foram para frente. Em 2009, na ânsia de substituir os veículos mais degradados, o prefeito João Henrique comprou os trens amarelinhos, que são veículos antigos reformados, vindos do Sudeste do país, sem sequer calcular se eles passariam pelo túnel de Periperi, no meio do percurso entre a Calçada e Paripe. Resultado: os trens chegaram e ficaram parados, esperando a CTS rebaixar o túnel para que pudessem passar.

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