Bairro do Imbuí, 12h30. Enquanto deixa os últimos estudantes em casa, a motorista de uma van escolar é fechada por um carro e rendida por dois homens armados. “A gente não vai fazer nada com as crianças nem com você. Eu também tenho filho”, diz a ela um dos bandidos, já entrando no veículo. Ordenando que a condutora seguisse para a BR-324, os assaltantes recolhem celulares e dinheiro da motorista e de mais quatro crianças. Todos são deixados num posto perto de Simões Filho, Região Metropolitana de Salvador, com dinheiro suficiente - dado pelos próprios assaltantes - para pegar um ônibus para casa.
Esta história aconteceu na última segunda-feira e é o caso mais recente de uma onda de assaltos a vans de transporte escolar que, segundo os próprios motoristas, se intensificou desde junho. Nos últimos seis meses, oito ocorrências parecidas foram registradas na Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV). A suspeita da polícia é que os veículos estejam sendo repassados para uso em transporte clandestino. O medo vivido pelas pessoas que trabalham com transporte escolar foi noticiado na coluna de Clécio Max, na edição do CORREIO de anteontem. “Roubar van acontece, numa média de uma por mês. Mas nesse período começaram a ocorrer roubos com vans de transporte escolar, o que não é uma coisa comum. Antes destes casos, não havia registro”, afirma o titular da DRFRV, Nilton Borba. Os investigadores trabalham com a hipótese de que as ações estejam sendo praticadas por uma única quadrilha. “Sabemos que eles fazem parte de um mesmo grupo, pelas características dos bandidos e pelo modus operandi. Inclusive houve um caso em que duas vans foram levadas de uma só vez”, conta Borba. De acordo com a DRFRV, em uma ocorrência de julho, uma dupla abordou dois motoristas perto do Colégio Anchieta, na Pituba, e também os deixou na região de Simões Filho, levando os veículos. Uma das vans foi encontrada abandonada na região do CIA. AçãoDe acordo com os relatos dos motoristas à polícia, as ações criminosas são realizadas sempre por três pessoas. Duas delas fazem a abordagem e a terceira fica dando cobertura dentro de um carro. Segundo o delegado Nilton Borba, em casos deste tipo, depois que os veículos são levados, as placas são trocadas e os documentos adulterados. Depois, as vans são vendidas e passam a circular no transporte clandestino na Região Metropolitana de Salvador. “A maioria dos veículos usados em transporte clandestino é legalizada, mas há esse tipo de veículo também. Muitas vezes quem está dirigindo nem sabe que se trata de um carro roubado. Só quem sabe é quem faz a compra”, ressalta o delegado, explicando que muitos assaltos são encomendados. No caso desta semana, em que a motorista foi abordada no Imbuí, os bandidos não usaram a força. No entanto, o condutor Ricardo Lima Santos, 37 anos, não teve a mesma sorte no dia 19 de julho, quando foi surpreendido na porta do Colégio Girassol, Itaigara. “Aconteceu quando eu descia pra pegar os meninos na escola. Me fizeram voltar pro carro. Um deles veio armado e quando eu ia entrando na van, nervoso, acabei caindo e eles colocaram a arma na minha bochecha e pisaram na minha clavícula”, diz Ricardo, que sofreu ameaças de morte. Ricardo seguiu dentro da van, com uma arma apontada em sua direção, até um ponto da BR-324, também nas imediações de Simões Filho. Mas, ao ser liberado pelos assaltantes, ele não ficou com dinheiro para pegar um ônibus, o que é comum no depoimento das vítimas. “Tive que ir andando de Simões Filho até o Makro, onde consegui fazer contato com alguém. Depois que meu sangue esfriou, vi que tinha me machucado. Fui parar no HGE”, lembra o motorista, que ficou dois dias internado. Condutores organizam manifestaçãoAssutados com a onda de assaltos a vans de transporte escolar, motoristas resolveram se manifestar para pedir mais segurança. Amanhã, às 9h, condutores que atuam no Imbuí e bairros próximos pretendem realizar um protesto na praça do Canal do Imbuí. Apesar de não estar na organização da manifestação, o presidente da Cooperativa de Transporte Escolar, Turismo e Locação da Bahia, Pedro Luiz de Oliveira, defende a mobilização da categoria - que conta com cerca de 900 vans escolares cadastradas na prefeitura. “O poder público precisa dar uma resposta imediata a isso, não só para o transporte, mas para a sociedade. De junho pra cá, o número de roubos aumentou muito. Estamos com medo”, diz.
Medo de perder clientesCom boa parte dos pais trabalhando fora o dia todo, o transporte escolar é uma opção prática para muitas famílias. Mesmo assim, algumas pessoas se viram como podem para ir levar e buscar as crianças na escola. É o caso do aposentado Aelson Ribeiro, 67 anos, responsável pelo transporte da neta ao colégio na Pituba, todos os dias. “Ela já foi e voltou de van, mas hoje só vem comigo. Não é que eu não ache as vans seguras, elas são. Mas ninguém sabe o que pode acontecer. Confio mais que ela vá comigo”, diz ele. A opinião do aposentado faz com que muitos condutores de vans escolares evitem comentar os casos recentes de assalto, com medo de perder clientes. Outros motoristas, porém, são a favor da divulgação, na tentativa de melhorar a própria segurança. “A gente está dirigindo amedrontado. Tem colega que não quer falar, mas a gente vai fazer o quê? É preciso divulgar. Eu não tenho paciência de dirigir correndo risco”, desabafa uma motorista, que trabalha na área há 20 anos. Matéria original: Correio 24h Vans estudantis viram alvo de assaltos na porta dos colégios
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