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Como saber se eu sou lésbica?

Gisele Palma conta sobre a sua descoberta de amar mulheres - parte 2

Gisele Palma • 12/01/2024 às 15:30 - há XX semanas

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Na primeira parte desta coluna, contei a minha trajetória até os 25 anos, quando me descobri bissexual. Hoje, aos 31, me entendo enquanto uma mulher lésbica e vou compartilhar com vocês como foi o processo de autoconhecimento quanto à minha sexualidade. Já aviso que, sim, é absolutamente normal a mudança do seu entendimento quanto à sua orientação ao longo da vida. A sexualidade não é algo fixo e engessado; somos humanas e uma condição-chave da nossa existência é, justamente, a impermanência. Agora senta que lá vem (o final da) história.


				
					Como saber se eu sou lésbica?
Já aviso que, sim, é absolutamente normal a mudança do seu entendimento quanto à sua orientação ao longo da vida.. Foto: Freepik

Ao terminar meu casamento (com um homem), um ano atrás, caí direto em um rebuceteio: fiquei com a ex da minha amiga. Com ela, vivi o típico clichê sapatônico da paixão arrebatadora e quase instantânea. No primeiro date, já rolou choro de emoção enquanto ela cheirava e beijava minha mão; no segundo, o primeiro “eu te amo” (aquele sem querer querendo, sabe?); duas semanas depois, ganhei a chave da casa dela; daí pra frente foi: mães de planta, churrasquinho com a sogra, drama pra todo lado, uma conexão inexplicável e horas e horas e horas e horas de um sexo absolutamente deliciante.

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Antes dela, eu nunca havia gozado com uma mulher, apenas com homens ou sozinha. Isso não fazia com que eu tivesse menos interesse por mulher, não mesmo (eu praticamente nem ficava com homem, como já falei). Eu sempre enfatizo, no meu Instagram e nos meus cursos, que o orgasmo é muito bom, mas não é ele quem determina quão gostoso e intenso é o sexo. Ele é como a cereja do bolo. Uma cereja suculenta, maravilhosa e desejada, mas não deixa de ser apenas uma parte da experiência, entende?

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De forma alguma, eu atribuía a minha anorgasmia com mulheres a uma suposta incompetência delas. Avalio que eu mesma ficava muito nervosa quando transava com mulher e, assim, além de não conseguir relaxar direito, ficava super preocupada em agradá-la e não tinha “coragem” de dizer como eu gostava. Além disso, às vezes, eu não sentia, em algumas dessas meninas, um desejo genuíno por mulher, como se tivessem um certo nojinho ou receio de me chupar ou tocar, e isso também contribuía para eu travar.

Quando fiquei com essa mulher da paixão avassaladora, desde o primeiro sexo, eu sentia um TESÃO dela por mim (e meu por ela, obviamente); era algo extremamente verdadeiro, uma volúpia visceral pelo meu corpo, meu gosto, meus movimentos. Não à toa, nossas primeiras relações duravam cerca de c i n c o horas. Eu me senti, cada vez mais, muito livre, muito à vontade para me expressar, sensualizar, gemer, xingar, pedir e ser eu mesma. E, final e felizmente, o orgasmo com mulher deixou de ser uma escassez para se tornar uma abundância, com ela e com as demais que vieram a partir de então.

Com tudo isso, alguns meses após minha separação, eu comecei a refletir sobre a minha orientação. De novo. Me apresentar como bissexual passou a me gerar certo incômodo e eu não sabia bem o porquê. Me dei conta de que eu não flertava ou me envolvia com homem há muito tempo (nem sentia falta). Ao pensar no futuro, não conseguia me imaginar novamente casando e tendo filha/o com um homem. Comecei a questionar minhas amigas: como você sabe que você é lésbica? Ouvi podcasts, li, fui a exposições, conversei, mergulhei na lesbianidade e nunca mais saí dela.

Eu entendi que alguns fatores me prendiam, psicologicamente, à bissexualidade, como ter sido casada com um homem por 12 anos (e ter sido muito feliz nessa relação), seguir achando homens bonitos, não ter nenhum problema com pênis e penetração…Era como se isso tirasse o meu direito de ser lésbica, sabe? Eu não me sentia “digna” de me declarar lésbica, mas também não me identificava com a bissexualidade ou com alguma outra orientação. Foi um período confuso e, em certa medida, sofrido.

Até que, num domingo, tomando uma cerveja com uma ficante, do nada, eu falei pela primeira vez: “Sou sapatão!”. Parece meio besta, mas, olha, foi tão LIBERTADOR. Eu me senti tão feliz! Me autoafirmar me trouxe a sensação de ter tirado um peso das costas, o peso de tantos auto julgamentos e autocrítica, o peso de tanto medo de encarar essa “nova” Gisele que gritava para ser reconhecida dentro de si mesma. E foi ali, no dia 16 de abril de 2023, que Jiji tãoSapa veio ao mundo, mais autêntica, consciente e realizada do que nunca.

Nós, mulheres, somos criadas para admirar homens. Ser lésbica é se levantar contra uma estrutura muito forte e enraizada de amor e devoção à figura masculina. É difícil, mesmo, após uma vida, décadas, se relacionando com homens, entender que hoje isso não reverbera mais em você. Eu desejo que você, assim como eu, possa ter coragem de se olhar de frente, se desapegar de tudo que você já foi, silenciar as vozes (internas e externas) que dizem quem você deve ser e abraçar a verdade que está gritando dentro de ti e só você sabe. Orientação sexual é algo a ser sentido individualmente.

Imagem ilustrativa da coluna Educação xualSe
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