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MÚSICA

Blocos Afro sofrem impacto sem carnaval e buscam alternativas

Com menos recursos do que os blocos tradicionais, entidades de matriz africana seguem tentando sobreviver a esse ano atípico

Redação iBahia • 10/02/2021 às 15:32 • Atualizada em 28/08/2022 às 19:46 - há XX semanas

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Durante todos os anos, os soteropolitanos brincavam que o “ano só começa depois do Carnaval”. Mas em 2021 isso não vai acontecer. O ano começou mesmo no dia 1º de janeiro porque não teremos a festa em fevereiro. A pandemia do novo coronavírus nos impôs o distanciamento social e, por isso, o carnaval, que reúne comumente milhões de pessoas, não irá acontecer.

Para se ter uma ideia, em 2020 o Carnaval de Salvador movimentou, de acordo com a prefeitura municipal, cerca de R$ 1,8 bilhão e gerou cerca de 215 mil empregos temporários. Entre tantos setores envolvidos e afetados – turismo, ambulantes, camarotes, artistas, blocos – com o cancelamento da festa, os blocos Afros, com menos recursos do que os blocos tradicionais, seguem tentando sobreviver a esse ano atípico.

Saída do Ilê acontece tradicionalmente no Curuzu nos sábados de Carnaval / Foto: Divulgação / GOV BA

O presidente da Associação do Coletivo de Entidades Carnavalescas de Matriz Africana (ACEMA), Nelson Nunes, pontua que essas entidades sofrem as consequências da falta de políticas públicas efetivas para a preservação dessa cultura.

“As entidades de ‘menor’ porte surgiram e continuam inseridas na periferia, nos bairros mais pobres da cidade. Infelizmente ao longo dos anos, foi implementado pelo poder público políticas de exclusão que dificultaram inclusive a realização de atividades próprias dessas entidades: os ensaios das baterias, ensaios das alas de dança, escolha de reis e rainhas e consequentemente os saberes estão se perdendo”, diz.

Crise

Em maio de 2020, o bloco afro Ilê Aiyê lançou uma campanha de doações para pagar uma dívida trabalhista que, à época, chegava a R$ 400 mil. Naquela ocasião, eram mais ou menos dois meses de pandemia instalada no Brasil. Agora, a pandemia está próxima de completar um ano. O que significa quase doze meses sem ensaios, shows, eventos abertos ao público. E sem lucros.

Foto: Divulgação / GOV BA

“Nunca deixamos de sair no Carnaval e agora estamos passando por esse momento aí, sem Carnaval, sem nada. O Ilê envolve muita gente, os músicos, costureiras, pessoas que dependem do bloco. É muito triste, muito complicado, o Curuzu a essa altura já teria o maior movimento”, lamenta Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, fundador e presidente do bloco.

“Naturalmente já passamos por certa dificuldade por questões de patrocínio, tudo é mais difícil para os blocos afros”, completou.

Com a proibição de aglomeração, as atividades artísticas do grupo foram paralisadas, como os ensaios, que envolvem não só o corpo artístico, mas vendedores, porteiros, seguranças, costureiras, entre outros. Além disso, o trabalho social também foi paralisado e a sede da entidade está parada.

Em 2020, se não fosse a pandemia, o Ilê faria uma turnê nacional que circularia por sete capitais com patrocínio da Petrobrás. Agora, de acordo com o presidente do bloco, a entidade está em negociação para reverter essa verba para ajudar neste momento delicado.

O criador do Cortejo Afro, Alberto Pitta, reforça o que narra Antônio Carlos. Ele destaca que a “economia da cultura” foi muito prejudicada. “É um impacto muito grande para todo mundo, mas sobretudo para as entidades que contratam serviços diversos. Lógico que a costureira, o sapateiro, a pessoa que faz o carro alegórico, o pintor, esses profissionais, entre outros, sentiram o impacto. São muitas pessoas dependendo do bloco nesse período.

O Cortejo Afro, no entanto, prevendo que 2020 seria um ano sem eventos, conseguiu se planejar para se manter até aqui. Como as coisas ficarão daqui para frente, no entanto, é incerto.

“Logo nós percebemos (que a pandemia iria durar), então nos organizamos nessa direção. Sabíamos que atravessaríamos o ano sem atividades, como todo mundo. Então o ano de 2020 conseguimos vencer. Chegamos de forma organizada, sem ter problema com algum serviço”, explicou Pitta, ressaltando que “este ano está mais difícil”.

Na internet

Em praticamente todo 2020, as lives em plataformas como YouTube se tornaram a opção para os artistas se manterem na ativa. Em janeiro, por exemplo, o Cortejo Afro fez uma live, com realização da Entidade Cultural Cortejo Afro, do seu tradicional ensaio de verão. Paralelo a isso, o bloco tem um projeto contemplado pelo Prêmio das Artes Jorge Portugal, dentro do programa Aldir Blanc, e foi selecionado em um edital da Sepromi, através do qual realizará a Feira da Economia do Sagrado. Tudo isso dentro do universo online.

Agora, para o Carnaval, os circuitos Dodô e Osmar serão substituídos pelo universo digital. Grandes nomes do carnaval baiano, como Ivete Sangalo, Claudia Leitte - que farão uma apresentação juntas - e Léo Santana, já anunciaram lives nos dias de festa.

Foto: Divulgação / GOV BA

Entre os blocos afro, o Olodum no início de janeiro anunciou que terá uma transmissão durante a folia momesca. A data e horário, no entanto, ainda não foram divulgados. Já para o Ilê Aiyê e o Cortejo Afro essa não será uma possibilidade. De acordo com o Vovô e Alberto Pitta, os blocos não participarão de lives durante o carnaval.



Ajuda

Apesar de já ter conseguido uma parte do valor necessário para quitar as dívidas trabalhistas, o Ilê Aiyê segue precisando de ajuda para manter a sede Senzala do Barro Preto.

“Conseguimos uma parte, mas continuamos em busca ajuda dos artistas, temos muito admiradores, mas não conseguimos ainda”, explicou o Vovô.

O Cortejo Afro também busca alternativas para se manter daqui para frente. “Provavelmente através de editais e de iniciativas, que a gente possa oferecer o serviço como entidade e como grupo”, finaliza Pitta.

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