Quando se relativizou o peso da goleada da seleção brasileira sobre o Peru, era justamente para desafios como o de quinta-feira que se alertava: enfrentar uma defesa fechada, um rival encerrado atrás, a obrigação de achar espaço diante de um muro. Nos 5 a 0 sobre os peruanos, circunstâncias um tanto atípicas abriram os caminhos. Em Porto Alegre, apesar de um domínio massacrante, naturalmente maior após a expulsão de um adversário, o tal primeiro gol contra o Paraguai não saiu. E embora a seleção fizesse muitas coisas corretas, o calvário foi até os pênaltis.
É importante ponderar que é natural ser assim. Se furar defesas é um desafio nas disputas de clubes, tal traço do jogo atual é ainda mais verdadeiro entre seleções. Porque as equipes nacionais têm menos tempo de treino, trabalham menos e, portanto, têm menos chances de desenvolver mecanismos, automatizar e sincronizar movimentos para abrir retrancas. Não nos esqueçamos da Copa do Mundo, vencida por uma França cheia de talentos, mas que corrigiu seu caminho quando passou a defender mais atrás e buscar o jogo em transições rápidas.
Dito tudo isso, não foi justo que o jogo fosse parar na marca do pênalti, tamanho o domínio da seleção. Em alguns aspectos da proposta de Tite, o time vai evoluindo na Copa América. A movimentação entre Arthur e Coutinho no meio melhora, oferecendo aproximações e trocas de passes; os laterais como armadores mais pelo centro também crescem, e ambos fizeram ótimo primeiro tempo — no segundo, Filipe Luís saiu e Daniel Alves seguiu fazendo grande jogo.
Ontem, fosse com faltas ou uma marcação cheia de perseguições individuais, o Paraguai quebrava o ritmo da seleção. Nas raras vezes em que, após os 15 minutos iniciais, os paraguaios ameaçavam buscar uma ação ofensiva, interrompiam qualquer eventual contragolpe brasileiro parando o jogo. A partida ficava picotada, apesar da posse de bola massacrante do Brasil.
O que não significa dizer que não haja questões a observar na seleção. Uma delas diz respeito mais ao jogo de ontem: sem Casemiro e Fernandinho , Allan se sentiu desconfortável na função de primeiro volante.
Mas por falar em desconforto, há outras situações que merecem mais atenção no momento. Tite quer laterais como armadores numa faixa mais central do campo e vê seus pontas iniciarem as jogadas mais abertos. Quanto a Éverton do lado esquerdo, nem há tantos problemas. Ele se sente à vontade. Mas Gabriel Jesus foi sacrificado demais no jogo. Como a marcação paraguaia bloqueava bem os lados e também impedia que o Brasil tivesse continuidade no campo ofensivo, raramente ele conseguia fazer a diagonal para a área. Preso pelo lado, fugia demais às suas características. E sem tantas opções de profundidade, ou seja, jogadores que se projetam para receber às costas da marcação rival, quem também se sacrifica é Roberto Firmino.
Pênalti perdido à parte, é um jogador de extrema inteligência, precisa ter opções de passe para que sejam aproveitados os espaços gerados por sua mobilidade. Aliás, o movimento que fez tirando Balbuena do lugar e gerando o lance da expulsão do paraguaio foi preciso. Assim como a jogada de Jesus, que rompeu seu confinamento à ponta e criou o lance.
A dificuldade no 11 contra 11 indica que é preciso melhorar a movimentação ofensiva. Ocorre que sem que nos déssemos conta, o Brasil trocou mais de meio time em relação à Copa do Mundo. Também perdeu seu melhor jogador e muda mecanismos de jogo. É, como quase todas as seleções do mundo a esta altura, um time em formação. Vitórias como as de ontem valem tanto pelo que se conquista quanto pelo que se evita. Ou seja, mantêm o Brasil vivo no torneio e evitam que um país ansioso crie uma pressão surreal sobre Tite. Pavimentar caminhos para o futuro e ganhar crédito: há muito em jogo na Copa América.
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Redação iBahia
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