Normalmente em evidência por surtos de dengue, Salvador tem oportunidade agora de se tornar referência na solução do problema. Isso porque a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-BA) já está testando uma vacina contra a doença em um grupo de pessoas em Pau da Lima. Segundo o diretor da Fiocruz, Mitermayer Galvão, uma vacina que está sendo desenvolvida na instituição já entrou na fase clínica de testes, ou seja, já está sendo aplicadas em humanos para verificar a segurança e a eficácia da imunização (veja gráfico).
“No estágio atual, estamos capacitando os técnicos que atuarão no processo e realizamos testes em um grupo específico que chega aos postos de saúde com febre”, explica Galvão. Depois da imunização, o grupo testado tem o sangue coletado para verificação da atuação da vacina. “Já temos uma quantidade significativa de dados coletados e isso nos dá muita motivação para a apresentação de resultados”, pontua Mitermayer. O diretor da Fiocruz alerta, porém, que os testes devem passar por três fases até alcançarem os padrões de excelência e segurança exigidas para esse tipo de produto e, finalmente, serem lançados no mercado. Ela não especificou em quais dos três estágios da fase clínica está a vacina que vem sendo testada. O produto, da Fiocruz em parceria com o laboratório GlaxoSmithKline, usa vírus mortos, o que, segundo Mitermayer, amplia a segurança do uso. Em virtude do pacto de confidencialidade nesse tipo de pesquisa, Galvão diz que ainda não poder precisar a data de lançamento da imunização, mas assegura que o Ministério da Saúde pretende usar a vacina de maneira universal para toda a população, em virtude do caráter de risco que a dengue apresenta para o país e para a Bahia, em particular, que é hoje um dos cinco estados com maior risco de epidemia. Além de Salvador, a Fiocruz também está fazendo testes em Manaus e Fortaleza. Mais esperançasAlém da parceria Fiocruz-Glaxo, outras três experiências estão sendo desenvolvidos no país. Uma com o laboratório Sanofi-Pasteur, em parceria com universidades federais, outra pela multinacional Merck e uma última realizada pelo Instituto Butantã, de São Paulo. Independente dos resultados e apesar da esperança, o diretor da Fiocruz alerta que neste momento é importante não descuidar dos fatores de prevenção e combate. “A vacina anima a comunidade científica, mas ela não retira dos poderes públicos a necessidade de investir em saneamento e água potável, além de não isentar a população dos cuidados de combate dos criadouros do mosquito nas residências”, completa Mitermayer. ContaminaçãoOs dados epidemiológicos da Bahia apontam que dos 417 municípios baianos, 396 (95%) possuem notificação da doença durante todo o ano. No entanto, 46 deles são prioritários para a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), inclusive Salvador que, desde o verão do ano passado, tem o sorotipo 4 (DEN4) circulando entre a população e em expansão. “O estado, infelizmente, apresenta uma situação que favorece o risco de epidemia, afinal os quatro sorotipos da doença estão presentes”, pontua a coordenadora do Grupo de Trabalho Contra a Dengue da Sesab, Elisabeth França, ressaltando que a população já enfrentou, em vários momentos, as infecções causadas por um ou outro sorotipo, fato que sensibiliza ainda mais o organismo, favorecendo o aparecimento do tipo hemorrágico. “Temos, ainda, problemas estruturais graves, como municípios densamente povoados e problemas históricos de abastecimento de água e coleta de lixo”, diz. Associado a esses fatores, ela destaca uma dificuldade na mudança da cultura das populações que acham que a doença está distante. “Já encontramos foco da doença nos locais mais inusitados, desde em copo para dentadura, geladeira, bromélias”, diz a coordenadora do Grupo de Trabalho. Mosquito e vírus da dengue sofreram adaptaçõesEmbora os estudos realizados não comprovem, a observação dos técnicos de saúde mostram que tanto o mosquito quanto o vírus mudaram seus hábitos ao longo dos anos. “A ideia de que o inseto gostava apenas de água limpa caiu por terra. Descobrimos que em superfícies com água contaminada, o Aedes encontra uma boa fonte de alimentação”, diz o pesquisador Mitermayer Galvão. A coordenadora do Grupo de Trabalho de Combate à Dengue da Sesab, Elisabeth França, destaca que a manifestação da doença também se modificou com o passar do tempo e algumas pessoas contaminadas deixaram, por exemplo, de apresentar febre. “A mudança no perfil da doença é preocupante porque exige readaptação ao combate e ao tratamento”, completa Elisabeth. Matéria original do jornal CorreioDengue: Salvador é uma das três cidades onde Fiocruz testa nova vacina
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