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Missa de sétimo dia de Mãe Bernadete reúne multidão em Salvador

Líder quilombola e ialorixá foi homenageada na Basílica Santuário do Senhor do Bonfim, com a presença dos familiares. Caso segue sob investigação

Redação iBahia • 24/08/2023 às 17:06 - há XX semanas

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					Missa de sétimo dia de Mãe Bernadete reúne multidão em Salvador
Foto: Reprodução/TV Bahia

A missa de sétimo dia de Mãe Bernadete, que foi assassinada a tiros na última semana, reuniu uma multidão nesta quinta-feira (24), na Basílica Santuário do Senhor do Bonfim, em Salvador. A cerimônia contou com a presença dos familiares da líder quilombola e ialorixá, que estavam acompanhados de uma escolta policial. As homenagens começaram no final da manhã e seguiram até a tarde, sob forte comoção.

O crime contra Mãe Bernadete aconteceu na noite da última quinta-feira (17), dentro do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, na região metropolitana, onde ela morava com os filhos e netos. Até esta quinta-feira (24), sete dias após o homicídio, ninguém foi preso. O caso é investigado por uma força-tarefa da Polícia Civil e também pela Polícia Federal. A família deixou a comunidade por segurança.

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A missa desta quinta foi presidida pelo pastor Edson Menezes, que é pároco da igreja. Durante a fala, ele ressaltou a importância da ialorixá e contou que ela era respeitada por todos os líderes religiosos. "Ela deixa um legado bastante positivo de alguém que lutou, lutou pelos seus direitos, lutou por questões contra o preconceito e tantas outras intolerâncias", disse. "Sentimos muito o seu falecimento, o trágico modo como tudo aconteceu", completou.


				
					Missa de sétimo dia de Mãe Bernadete reúne multidão em Salvador
Foto: Reprodução/TV Bahia

O filho de Mãe Bernadete também ressaltou a importância da líder quilombola e destacou como a situação tem sido enfrentada pela família. "Minha mãe era uma pessoa religiosa, no momento está com Deus. Que Ele faça a passagem dela, que era uma pessoa boa. Eu sei que ela está com Deus. Está sendo tudo bem difícil, do jeito que foi, como está sendo, muito difícil", afirmou Jurandir Wellington Pacífico.

Antes da missa, no início da manhã, diversas entidades do movimento negro se reuniram em frente à igreja para reforçar a luta quilombola. Eles pediram justiça pela ialorixá. O ato integrou também do dia nacional de luta contra a violência policial e o genocídio do povo preto.

"Ela foi brutalmente assassinada por ser uma mulher preta, quilombola e de terreiro, a gente tá denunciando o genocídio da população negra em todo o Brasil. Hoje é um dia simbólico para o nosso país, porque o povo negro está nas ruas demonstrando que a gente não vai mais tolerar o silenciamento das mortes diárias da população negra", relatou a coordenadora do Unegro-BA, Samira Soares.

Crime e depoimentos

De acordo com o neto da ialorixá, Wellington Gabriel de Jesus dos Santos, que presenciou o crime, a vítima achou que seria assaltada quando os criminosos invadiram a casa da família para cometer o assassinato. A versão foi dada no depoimento do jovem.

No dia do crime, além de Wellington Gabriel de Jesus dos Santos, que tem 22 anos, Mãe Bernadete estava com outros dois netos: um de 13 e o outro de 12 anos. O jovem estava em um dos quartos da casa e os adolescentes com a avó, na sala. Foi um dos garotos que abriu a porta quando os criminosos bateram.

"É assalto?", perguntou Mãe Bernadete quando os dois homens armados, usando capacetes de motociclista, a renderam.

Ainda segundo Wellington, os homens pegaram o celular da avó e a mandaram desbloquear o aparelho. Eles também roubaram os celulares dos dois adolescentes e exigiram que eles fossem para um dos quartos da casa.

Depois disso, um dos homens foi até o quarto onde Wellington estava e o mandou deitar no chão, usando uma expressão homofóbica. "Deite no chão, seu viado", exigiu. Ao sair do cômodo, o homem fechou a porta.


				
					Missa de sétimo dia de Mãe Bernadete reúne multidão em Salvador
Foto: Conaq

Em seguida, o jovem ouviu diversos disparos. Quando ele saiu do quarto, encontrou a avó morta no chão da sala, já morta.

Nesse momento, Wellington usou o computador para usar o aplicativo de mensagens que estava aberto no equipamento para pedir socorro para outras pessoas que vivem no quilombo.

O jovem deixou os adolescentes com um vizinho e foi até o terreiro que era liderado por Mãe Bernadete e que fica dentro do Pitanga dos Palmares, para ligar para a polícia.

Ainda segundo o relato do neto da ialorixá, os criminosos tinham entre 20 e 25 anos, eram negros e usavam roupas pretas, capas de chuva e capacetes. Eles entraram e saíram do quilombo usando uma motocicleta.

Wellington disse também que não existe conflito agrário envolvendo o quilombo e que não se recorda de inimizades ou ameaças recebidas pela avó. No entanto, ele mencionou que Mãe Bernadete tinha muitos medos. Especialmente após o assassinato do filho dela, que também é pai de Wellington, o "Binho do Quilombo".

O jovem ainda relatou à polícia que Mãe Bernadete "pegava no pé" de um policial militar da reserva que mora perto do quilombo. Os dois teriam muitos desentendimentos.

Investigação

O Governador da Bahia revelou que a Polícia Civil trabalha com três linhas de investigação no assassinato da yalorixá Maria Bernadete Pacífico. Segundo Jerônimo Rodrigues, as teses seriam intolerância religiosa, briga entre facções e disputas em território quilombola.

A de mais destaque da Polícia Civil da Bahia é a de disputa entre facções criminosas – uma tese bem divergente da apontada por especialistas em conflitos envolvendo quilombolas e pelos advogados da família de Bernadete.

"Essa tem sido, na tese da Polícia Civil, a mais premente, a que 'possa acontecer' [pode ter acontecido]. Se isso aconteceu, da mesma forma [que as outras teses] não haveremos de nos debruçar sobre ela, em uma parceria integrativa com o governo federal, com a Polícia Federal", disse o governador.

A principal tese levantada pelos especialistas é a de disputa pelo território quilombola. Jerônimo Rodrigues relatou que apesar de não ser a principal linha de investigação da Polícia Civil, buscou o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para regularizar o terreno quilombola. O gestor citou ainda que muitas autoridades procuraram ele para ajuste da situação e se solidarizar com a morte de Mãe Bernadete.

"Há uma expectativa de que esse caso não tenha relação direta com o território, mas uma tese que mesmo não acontecendo, o problema existe. Nós já nos manifestamos com o Incra para que a gente possa acelerar o processo de regularidade daquele terreno, daquele território".

"Não só dele, mas um conjunto de territórios quilombolas e indígenas que a gente precisa aproveitar. É responsabilidade nossa. Mesmo não sendo por causa do território, nós entendemos que é um problema que temos que enfrentar".

Na última sexta-feira (18), a Polícia Civil confirmou que as armas utilizadas no assassinato de Mãe Bernadete são de uso restrito. Investigações preliminares indicam que a yalorixá e líder do Quilombo Pitanga dos Palmares foi morta com tiros de calibre 9mm.

As investigações estão em curso e envolvem agentes de departamentos como de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), e Especializado de Investigação e Repressão ao Narcotráfico (Denarc), e da Coordenação de Conflitos Fundiários (CCF). Vale destacar que a agência de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) pediu ao estado uma "investigação célere, imparcial e transparente".

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